- Introdução
- Trabalho
realizado por uma força constante
- Trabalho
realizado por uma força variável
- Energia Potencial
- Uma relação
geral entre Força e Energia Potencial
- Potência
- Momento Linear
- Momentum
- A Conservação
do Momentum
- Colisões
e Impulso
Até agora estudamos o movimento de objetos em termos das três leis de Newton. Nestes estudos a força teve um papel crucial na descrição do movimento. Neste capítulo e nos próximos, nós apresentaremos uma análise alternativa para descrever o movimento de objetos em termos das grandezas energia e momentum. A grande importância destas grandezas é que elas se conservam. Esta conservação existe não só para dar nos uma compreensão da natureza do universo, mas também uma forma prática de resolver problemas relacionados ao movimento.
As leis de conservação da energia e momentum são especialmente valiosas quando tratamos de sistemas com muitos corpos, nos quais considerações detalhadas sobre as forças é um problema de solução difícil.
Este
capítulo se dedicará a introdução do conceito
de energia e sua relação com o trabalho. Trabalho
e energia são grandezas escalares e portanto não têm
uma direção associada a elas. A energia tem a sua importância
justificada por dois motivos principais. Primeiro, é uma grandeza
conservada. Segundo, a energia é um conceito que é útil
não somente nos estudo dos movimentos, mas em todas as áreas
da física, assim como de outras ciências. Esta universalidade
do conceito de energia torna possível, por exemplo, seguir a trajetória
do fluxo da energia nuclear solar, atravessando o espaço em forma
de radiação, sendo transformada em energia química
pelas plantas e finalmente em energia mecânica nos músculos
dos animais que alimentam-se destas plantas. A lei de conservação
garante que mesmo com estas mudanças de forma a energia total é
uma constante. Esta lei de conservação diz-nos o que pode
e o que não pode ocorrer na natureza, isto é,
o que é
e o que não é energeticamente possível.
2- Trabalho realizado por uma força constante
A palavra trabalho tem uma variedade de significados na linguagem do dia a dia, em particular é aplicada a qualquer forma de atividade que requer um esforço mental ou muscular. Mas, em física, trabalho tem o significado muito específico de descrever o que é realizado pela ação de uma força, sobre um objeto, quando ele move de um ponto a outro. Especificamente o trabalho feito por uma força, sobre um objeto, é definido como sendo o produto da intensidade do deslocamento multiplicada pela força paralela ao deslocamento. Matematicamente podemos escrever,
onde F|| é a componente da força F paralela ao deslocamento d. Podemos escreve-la, também, na forma de um produto escalar entre os vetores F e d, como a seguir
De acordo com a equação (1) a força produzirá um trabalho máximo quando ela for paralela ao deslocamento d. Neste caso q = 0 e cos q = 1. Consequentemente forças agindo perpendicularmente ao movimento de um corpo não realizará trabalho.
No sistema de unidades internacionais (SI), o trabalho tem a unidade de Nm = joule (J). No sistema CGS a unidade de trabalho é o erg = 1 dina.cm = 10-7 J.
De
acordo com esta definição, quando um corpo é levantado
por uma força, o trabalho realizado é positivo; quando uma
mola é distendida o trabalho é positivo. Por outro lado,
o trabalho da força gravitacional sobre um corpo que está
sendo levantado é negativo, pois a força gravitacional (dirigida
para baixo) é oposta ao deslocamento do corpo. Quando um objeto
desliza sobre uma superfície fixa, o trabalho realizado pela força
de atrito sobre o objeto é negativo pois a força tem sempre
o sentido oposto ao do deslocamento do objeto. Por outro lado, nenhum trabalho
é realizado pela força de atrito sobre a superfície
fixa, pois ela não se desloca. Dessa forma, embora possa ser considerado
um trabalho pesado segurar uma bola de 30 kg, nenhum trabalho será
realizado, no sentido técnico pois não há movimento.
Do mesmo modo, o trabalho da força normal exercida por um livro
na superfície da mesa, bem como o trabalho da força centrípeta
sobre um objeto que se move em círculo, são nulos.
3- Trabalho realizado por uma força variável
Na seção anterior discutimos o trabalho realizado por uma força constante. No entanto, o trabalho é realizado por uma força variável em direção, sentido ou intensidade durante o deslocamento. Assim, quando uma mola é esticada lentamente, a força requerida para isto aumenta à medida que a mola aumentar o comprimento; quando um corpo é lançado verticalmente, a força gravitacional exercida pela Terra decresce em proporção inversa à distância do corpo ao centro terrestre.
Suponha que um partícula, movendo ao longo de uma linha, está sob a ação de uma força variável com a posição e seja ainda paralela a essa linha. A Fig.5-1, mostra a variação do módulo da força em função da coordenada x da partícula. Para encontrar o trabalho realizado por esta força, dividi-se o deslocamento em pequenos segmentos D x1, D x1, … D xn. Em cada segmento temos um valor para a força atuando sobre a partícula. Assim o trabalho total realizado é igual a soma dos trabalhos infinitesimais,
Como o número de segmentos torna-se muito grande a medida que diminuimos o intervalo em x, esta soma torna-se (no limite) a integral de F em função de x:
Para demonstrar esta afirmação vamos fazer uso da segunda lei de Newton, isto é
Na
seção anterior discutimos como associar o movimento de um
objeto a uma energia, a qual denominamos de energia cinética. Mas,
podemos também mostrar que existe uma energia associada com a força
aplicada, em um objeto, que depende da posição e configuração
do sistema. Ela é conhecida como energia potencial. Muitas
vezes o trabalho realizado pela força aplicada não provoca
aumento na energia cinética do corpo, pois outras forças
atuam e efetuam trabalho negativo da mesma intensidade que o positivo.
Por exemplo, para levantar um objeto, lentamente e com velocidade constante,
na superfície terrestre temos que realizar trabalho e consequentemente
será gasto uma energia para movimentá-lo de um ponto a outro.
Se a energia se conserva, para onde vai esta energia ? A onde e como ela
fica acumulada ? Dizemos que esta energia está acumulada em termos
de energia potencial gravitacional, a qual depende estritamente
da posição do objeto relativo ao centro da Terra.
- Energia potencial gravitacional
O trabalho realizado pela força gravitacional quando uma massa muda a sua altura em relação a superfície da Terra é dado pela expressão,
ou
Este trabalho realizado para mudar a posição da massa também pode ser correlacionado com a variação da energia cinética, pois ao mover o objeto entre os pontos y1 e y2, ele teve a sua velocidade modifica. Como a energia total se conserva temos que, neste processo, a energia cinética foi transformada e acumulada em termos de energia cinética. Quando o objeto mover-se no sentido inverso, transformará energia potencial em cinética novamente. Isto pode ser equacionado da seguinte forma
onde D Ec é a variação na energia cinética. Esta equação pode ser reescrita como a seguir
- Sistema Massa-Mola
Um outro exemplo comum onde a energia potencial aparece no caso do movimento de massas acopladas a molas. Ao mover uma massa m, presa nas extremidade de uma mola, perceberemos rapidamente que será necessário despender uma energia, ou realizar trabalho, para comprimi-la ou estende-la.
Para compreender melhor este fenômeno, vamos estudar um sistema massa-mola como desenhado na Fig.5-2. A partir de resultados experimentais, pode-se mostrar que a força que a mola (estendida ou comprimida) exerce sobre a massa é proporcional afastamento da massa com relação a posição de repouso, isto é F = -kx, onde x é a medida do deslocamento. Isto é conhecido como lei de Hooke. O sinal negativo significa que a força é sempre restauradora, isto é, ela agirá no sentido de manter a massa no ponto de equilíbrio. Se a mola estiver comprimida a força será no sentido de estender a mola, e caso contrário ela estiver estendida a força será no sentido de comprimi-la. A constante k é chamada de constante da mola e tem dimensão de força/comprimento. Esta lei de força se aproxima de muitas forças na natureza. Como por exemplo, as ligações químicas podem, em certos casos, serem descritas por estas forças elásticas.
O trabalho realizado para mover uma massa presa em uma das extremidade
da mola é igual a
A equação (7) mostra que o trabalho realizado para mover uma massa sob a ação de uma mola, depende apenas da posição da mola e não de sua velocidade, como no caso da relação trabalho-energia cinética. Esta energia acumulada, por exemplo, pode ser transformada em energia cinética.
Usando o teorema da conservação de energia total temos que a soma das energias cinética e potencial deve ser uma constante,
Vamos considerar agora um sistema massa-mola sobre a influência da força gravitacional. Este sistema é uma combinação dos dois casos anteriores, como mostra a Fig. 5-3.
Quando ambas forças, elástica e gravitacional, agem simultaneamente em um objeto, o trabalho realizado sobre o corpo consiste de dois termos. Se a mola estiver orientada verticalmente, a força no objeto devido a mola é igual a
5- Uma relação geral entre Força e Energia Potencial
Uma definição geral de energia potencial, para forças não conservativas, em uma dimensão é dada por
Fig. 5-4
Graficamente
a força F(x) é a inclinação da curva U(x) no
ponto x. No caso particular x = 0, ponto de equilíbrio da mola,
a força é igual a zero, consequentemente a inclinação
também será nula.
A potência média é definida como a razão temporal em que o trabalho é realizado, ou a razão com a qual a energia se transforma. Isto é,
É
muito importante perceber a distinção entre energia e potência.
Para ajudar a fazer esta distinção considere o seguinte exemplo:
Uma pessoa está limitada, freqüentemente, no trabalho que ela
pode realizar, não somente pela energia a ser gasta, mas também
quão rápido esta energia deve ser transformada, isto é
a potência. Por exemplo, uma pessoa ao subir uma escada realizará
o mesmo trabalho, subindo lentamente ou correndo. No segundo caso a potência
será maior pois realizará o mesmo trabalho em menor tempo.
A pessoa estará limitada, neste caso, pela potência que é
a razão com a qual o corpo dele pode transformar energia química
em mecânica.
A lei de conservação da energia, discutida nas seções anteriores, é uma das várias leis de conservação em física. Entre estas quantidades conservadas estão o momento linear (momentum), o momento angular e carga elétrica, as quais serão discutidas posteriormente em detalhe, pois elas têm um papel de suma importância em todas as ciências. Nesta seção discutiremos a conservação do momento linear e suas conseqüências e aplicações em física.
O momento linear ( mais simplesmente momentum) de um corpo é definido como sendo produto da massa pela sua velocidade. O momento, (cujo plural é momenta) é usualmente representado pelo símbolo p. Se m é massa de um objeto e v a sua velocidade, então o momento é dado por
De acordo com a equação (23), um carro com alta velocidade tem um momentum maior do que se ele estiver a baixa velocidade. Por outro lado, um caminhão, viajando com a mesma velocidade de um carro pequeno, terá um momentum maior comparado como do carro, pois a sua massa é maior.
Se o momentum de um dado objeto é variável no tempo, isto significa que existe uma força agindo sobre ele. Uma variação positiva no momento significa que o corpo esta sendo acelerado e com velocidade crescente. No caso variações negativas significa que o objeto esta sendo freado. De acordo com a segunda lei de Newton a força e a variação do momentum estão diretamente ligadas uma a outra, pela equação
O conceito de momentum é particularmente importante por ser uma quantidade que se conserva. Já no século XVII se conhecia que a soma dos momentos de duas bolas, num processo de colisão, era uma constante. Por exemplo, o choque entre duas bolas de bilhar tem o momento conservado (Fig.5-5). Isto significa que a soma dos momentos iniciais das duas bolas será igual a soma dos momentos finais. Matematicamente isto pode ser equacionado da seguinte forma
momentum antes = momentum depois
Apesar da conservação do momentum ter sido introduzida inicialmente por vias experimentais, ela pode ser derivada da segunda lei de Newton, como mostramos a seguir:
Fig.5-5 choque entre duas partículas
Aplicando a equação (27) no caso do objeto 2 e levando em conta que a força F21 no objeto 2 devido a 1, temos que
Pela terceira lei de Newton temos que F12 = -F21, então
Combinando estas duas últimas equações temos que
ou
O que é a própria conservação do movimento em um sistema isolado, isto é o momento total inicial é igual ao final.
Um sistema é um conjunto de objetos interagentes entre si. Um
sistema é dito isolado quando todas as forças presentes são
exclusivamente aquelas existentes entre os elementos componentes do sistema.
Isto tem como conseqüência que a soma destas forças,
de acordo com a terceira lei de Newton, de ser igual a zero.
A conservação do momento é uma ferramenta muito útil na estudo dos processos relativos à colisão entre objetos. Colisões são processos de ocorrência freqüente no nosso dia a dia: o choque da bola de futebol com a trave do gol, o choque entre dois carros em um acidente e o choque entre bolas de bilhar, são alguns exemplos de colisão. Em particular, a nível atômico, colisões entre partículas elementares ou mesmo de elétrons com átomos e seus constituintes são objetos de estudo na física moderna.
Em um processo de colisão entre dois objetos, ambos são deformados durante o choque. Isto deve-se ao fato do aparecimento de forças de contato intensas, ocorrendo um curto espaço de tempo. O gráfico a seguir mostra a variação da força em função do tempo durante um processo de colisão típico.
De acordo com a segunda lei de Newton a força sobre um objeto é igual a taxa de variação temporal do momentum:
Esta equação se aplica a cada objeto envolvido na colisão. Esta equação pode ser escrita por
O impulso pode ser definido também na forma integral, como a seguir
Se o impulso de uma força for positivo, o momento linear de um corpo, sobre o qual ela é exercida, aumentará algebricamente. Se o impulso for negativo, o momento linear decrescerá. Se o impulso for nulo, não haverá variação no momento linear.
Voltar à página principal |
|
Electronic
Address : kcmundim@unb.br
or spedrosa@fis.ufba.br
Last Updated: Jan/16/2000
Copyright 1997: Kleber C. Mundim.
All rights reserved.
Register No 169.766 - Biblioteca Nacional - Ministério
da Cultura